Monday, September 25, 2006

Not our son of a bitch


Quem disse que na China não há política? Ai há, há, e é da bizantina, como se vê nesta notícia da Reuters.

Abriu a época de caça aos grandes corruptos. A luta contra a corrupção está cada vez mais a tornar-se uma luta pelo poder político dentro da estrutura do Partido Comunista Chinês, antes do 17º congresso do partido, que decorre no fim do próximo ano.

É agora, portanto, a altura dos actuais dirigentes limparem a casa e afastarem os eventuais concorrentes do Poder, como o dirigente máximo do Partido em Xangai. Nada que se afaste das boas tradições dos partidos comunistas. E, não sejamos infantis, de qualquer outro partido ou agremiação desportiva.

O caso de Chen Liangyu já foi explicado por Kissinger, um dos grandes bizantinos (e, incidentalmente, autor de um ou outro crime contra a humanidade) - “he was a son of a bitch, but not our son of a bitch”.

Wednesday, September 20, 2006

O Homem da Obras que Mordeu o Panda


Arreda, Markl, que esta é muito boa.

Um trabalhador migrante chinês, embriagado, mordeu um panda no jardim zoológico de Pequim, após o animal o ter mordido, numa luta entre homem e panda, informou hoje o jornal oficial chinês Beijing Daily News.

Zhang Xinyan, que trabalha na construção civil em Pequim e é originário da província de Henan, no centro do país, tinha na terça-feira bebido quatro jarros de cerveja antes de saltar a cerca que separa os animais dos visitantes para abraçar o panda Gugu, refere o jornal.

Gugu, que dormia, acordou sobressaltado e mordeu Zhang, de 35 anos, na perna direita. Zhang, zangado, respondeu dando um pontapé a Gugu, que, na luta que se seguiu, mordeu o homem na
perna esquerda.

«Mordi-o nas costas, e a pele era muito espessa», explicou Zhang, no hospital, citado pelo Beijing Daily News, cujas fotografias mostram o homem na cama de hospital, com pontos nas pernas, envolvidas em ligaduras ensanguentadas.

Os outros visitantes do Jardim Zoológico de Pequim avisaram os tratadores da luta entre Zhang e Gugu, que conseguiram finalmente separar homem e animal à força de jactos de água.

«Eu já tinha visto pandas na televisão e eles pareciam que se davam bem com as pessoas. Ninguém me disse que eles mordiam», disse Zhang.

«Só o queria tocar. Estava tão tonto da cerveja que nem me lembro bem do que aconteceu», adiantou.

Ye Migxia, porta-voz do jardim zoológico, disse ao jornal chinês que «Gugu está saudável», após o encontro com Zhang, e que a instituição não pensa processar ou tomar qualquer acção contra o homem.

«Já basta o choque que sofreu», disse Ye ao Beijing Daily News.

O Homem que mordeu o panda

Nos “Diários Mínimos”, o Umberto Eco diz que o efeito de estupidificação que os meios de comunicação social fazem sobre as pessoas se nota nas relações que elas têm com os animais selvagens. As pessoas deixam de olhar para eles como animais e passam a olhar como bonecos animados, amiguinhos dos humanos. Passam a ser um objecto de prazer para as pessoas, um cão noutra espécie.

A história do Homem Que Mordeu o Panda é do Hilário e é a prova disso. A mistura é explosiva. Trabalhador migrante, bêbado, pobre, com baixo nível de instrução e longe de casa, onde só vai um a vez por ano em Fevereiro. O homem já tinha visto pandas na televisão e parecia-lhe amigo. Foi sozinho ao Zoo e decidiu fazer do panda um amigo, mas a coisa correu-lhe mal.

Por enquanto, o proletariado urbano chinês só vai mordendo pandas. Mas é questão de tempo até os alvos serem outros…

Monday, September 18, 2006

Sam Huntington ao povo e as criancinhas, Vasco Pulido Valente

As leituras de Vasco Pulido Valente ficaram no “Clash of Civilizations” do Huntington. Pode também ter lido “Culture is Destiny”, na Foreign Affairs.

Só que estas ideias nasceram antes da salganhada toda que existe agora no mundo árabe (diferente de islâmico) e, apesar de estarem no poder em Washington, não resolveram nada até agora. Será, só para mandar uma hipótese, que é porque estão erradas?

O problema, a tragédia, do Islão é a sua diversidade. VPV sempre foi míope na análise do Islão porque a coisa não é bem um monólito. As religiões cristãs têm uma vantagem absoluta, em termos de presença no mundo e de boa vizinhança, sobre os grupos muçulmanos. Têm regras, instituições, doutrinas, ortodoxias claras. E a guerra e a revolução sem controlo hierárquico (ou a jihad e as bombas) são pouco ortodoxas, que não nascem dentro de instituições maduras.

Não há no cristianismo vazios de poder, a ser enchidos por quem se diz ser mais pio ou por quem usa a retórica do anti-imperialismo, anti-israel, etc, parta enganar os tolos e ficar com os bolos (Arafat anyone?)

Se um padreco de província lançar uma “fatwa” ou uma guerra santa, o bispo manda-o calar. Num Islão sem instituições rígidas, alguém como Ossama bin Laden, que não é respeitado como parte do clero pela maioria dos muçulmanos, tem um poder desproporcionado à sua posição, nas margens da ortodoxia.

Só mais uma coisa, VPV: “O Papa já lamentou o equívoco, mas não pediu desculpa, nem podia pedir”. Pois não, o papa é infalível, escolhido pelo Espírito Santo. Onde está o seu “monumento à razão?” A história da igreja não é só S. Tomás de Aquino.

Guerra das Civilizações, versão Pulido Valente

É difícil discordar com o vigor e a raiva que se deve ter nestas coisas de alguém que achamos um herói, mas de vez em quando, “dos gonzos sai o tempo”.

O homem, por brilhante que seja, sempre insistiu na superioridade da civilização ocidental e católica. Enquanto “public intellectual” pode fazê-lo, mas enquanto académico vou ali já venho. E aqui está um exemplo de Vasco Pulido Valente a voar baixinho nos “cultural studies”, coisa sobre a qual manifestamente leu pouco, leu mal e leu mau. O post chama-se "Reafirmou a essência".

Nem seque me interessa entrar na discussão sobre se foi o cristianismo sozinho, sem muçulmanos ou judeus, que mais contribuiu para o que VPV chama “O Ocidente”.

Agora, dizer, como VPV diz, que a fé muçulmana (?) sustentou “uma civilização frustre e parada” é com certeza um bocado de exagero? Cabe tudo no mesmo saco, aparentemente: Ásia Central, Médio Oriente, Sudeste Asiático, Nova Iorque, Londres, mesquita da Praça de Espanha e o Martim Moniz. É a guerra das civilizações, versão Portas de Benfica. Permite, com certeza, ter opinião, mas deixa pouco espaço à análise e à compreensão.

Dois livros ajudam à compreensão e a uma ideia mais generosa e com menos generalizações sobre o Islão, como se os muçulmanos, ou os cristãos, fossem todos uma massa uniforme.

Um livro brilhante, de um muçulmano que poderia ser dos tempos iluminados de Córdova. Muhammad Asad, nascido Leopard Weiss, neto de um rabino judeu ortodoxo da cidade polaca de Lvov. “The Principles of State and Government in Islam”.

Outro, do antigo Vice-primeiro Minstro da Malásia Anwar Ibrahim que acredita, e bem, que o Islão foi desviado pelos “Mad Mullahs” e que primeiro passo para o Islão ser visto pelo seu lado positivo (e não pela óptica VPV) é resolver essa questão interna e tirar os “Mad Mullhas” do lugar do condutor. "The Asian Renaissance" e aqui.

Infelizmente, Anwar depois entra na conversa tonta dos “valores asiáticos”, que é o mesmo ponto de vista de VPV: que há valores culturais intrínsecos a civilizações que permitem atingir resultados concretos, regardless das condições materiais da história.

Saturday, September 16, 2006

Era o céu sua bandeira

Na branca espuma do mar.

Um grande abraço ao Atlântico Azul, blogue de bons ventos, marés ainda melhores.


Nanyang era o nome que os marinheiros chineses davam aos mares do sul da Ásia. Ao norte, presumo, seria Beiyang.

Friday, September 15, 2006

A vós que passais

Queríeis boas prosas, hã? Se calhar com uma pitada de humor, carradas de mensagem e pilhas de ironia? E vindes aqui, pobres almas? Ledo engano, triste ilusão…

Se tal é isso que buscais, mais sofisticação, poesia e análise política fria, incorruptível e independente, pois passai por
aqui. Se, para além de tudo isso, gostais das melhores coisas da vida, é aqui que tendes de ir.

Ide em paz. Mas voltai, que eu desde que conheci estes dois blogues, nunca mais os consegui largar…

Finalmente, o livro

Um velho amigo que não para de fazer coisas boas, apesar de ateu, se não toma cuidado ainda vai para o céu. Para além de já nos dar um dos melhores cantos da blogosfera, ainda nos dá agora o prazer de o ler, mais a fundo e com mais detalhe. Quando concordo com o Gonçalo nas premissas, discordo das conclusões, quando concordo com as conclusões, discordo das premissas. Mas nunca deixo de aprender sobre assunto, de voltar mais velhino e conhecedor, de me entusiasmar, de aprender até a escrever português. Obrigado pelo novo livro.

Um excelente trabalho académico numa área onde, em Portugal, ainda há muito por escrever. Parabéns, Gonçalo. Antes discordar 500 vezes de uma pessoa brilhante do que concordar uma vez com muito tonto que por aí anda…

Camaradas e “camaradas”

Sexualmente falando, assim portantos, sexualmente, nada podia estar mais longe de Woodstock ou, já agora de um campo de férias do Bloco de Esquerda (oh tia, foi estupendo, távamos imensos, mesmo à saída de Baleizão) do que a China revolucionária.

A sexualidade, apesar de um desvio burguês, era tolerada porque criava novas unidades económicas pequeninas. A homossexualidade era mais tabu que no Vaticano e era expressamente proibida. Até 2001, estava na lista das doenças mentais, e levava a internamento em instituições.

É claro que na revolução sempre houve uma homossexualidade de armário, como entre o nazismo e o nativismo alemão e a homossexualidade. Um grupo de homens nús na floresta a construir o novo homem ariano não deix de ser um grupo de homens nús na floresta. A China, em minha opinião, não é excepção. É só ver o poster do Exército popular de Libertação e a as pinturas gay de Tom of Finland. A semelhança é óbvia.

Semanticamente, a coisa também sempre esteve muito ao lado, e, na revolução , havia muito gay de armário - ou havia, na cena gay, muito revolucionário de armário. Tanto que, apesar da grande muralha do silêncio que parece fechar a homossexualidade, os gays e lésbicas chineses apropriaram-se do vocabulário comunista e totalitário, com um ironia engraçada. Chama-se uns aos outrs “camaradas”. Pavel, acorda e vem cá ver isto….


“Espero que o governo e a sociedade nos compreenda. Nós, os “camaradas”, somos tão bons, fiéis [a quem, uns aos outros, ao regime?] e cumpridores da lei como qualquer outra pessoa. Por favor, não nos descriminem ou não nos tratem simplesmente como seropositivos.

Assim escreve um visitante do site “Fórum de Camaradas”, um site gay apoiado pelo governo, que tenta por em contacto gays e profissionais de saúde na luta conta a sida.

A posição de muitos gay chineses é, no fundo, a de muitos outros chinses, Querem que lhes seja reconhecida dignidade, após anos de colonialismo e de miséria maoista. Querem que lhes seja dado um lugar à mesa, sem paternalismos ou generalizações culturais criadas por outros.


Que lhes seja reconhecido um estauto de igualdade, tão bons (ou tào maus, segundo o ponto de vista) como os países desenvolvidos.

Querem ser identificados, sobretudo, pela identidade que eles próprios criam, e não por identidades prontas-a-vestir para consumo externo. Perceber isto já ajudava a evitar muito erro. Lembrem-se do Japão antes da Guerra do Pacífico...

Monday, September 11, 2006

Trinta anos de morte: parte 2

Mao odiaria o desprezo, e isso basta para qualquer pessoa, hoje em dia, sentir bem. O assassino da cara rosada era o homem das frases que ficam no ouvido - e depois até fazem zunir os tímpanos, de atrozes que são.

Pérolas como “A revolução não é um jantar de gala” (isto do homem que, naquela altura na China, devia ser da mão-cheia de chineses que frequentava jantares de gala ou, já agora, que tinha comida) ou “Quantos mais pessoas matarem mais revolucionários serão” dito num discurso aos anjinhos dos Guardas Vermelhos da Revolução que limpou o sebo a entre um e dois milhões de chineses são boas.

Mas o prémio I-am-so-fucking-good-it-hurts é “Eu sou o imperador Qin e Marx num só”. Foi o antigo secretário de Mao, Li Rui, que relatou ao mundo que o carniceiro de Pequim gostava de dizer a frase, referindo-se a um antigo imperador chinês conhecido pelos métodos autocráticos.

Agora, poucos foram os que lembraram a morte de Mao. E menos que todos, os herdeiros do governo chinês e do Partido Comunista da China que trataram a memória de Mao como as tias da Foz tratam os primos parolos de Trás-os-Montes. Dizem olá e escondem-nos na cozinha.

Os mais novos não querem nem saber. Os mais velhos, em especial os que vivem nas cidades, foram quase todos, nalgum ponto do Maoísmo, vítimas e cúmplices, compagnons de route e penitentes. Preferem não lembrar.

Poucos ligam ao homem que agarrou no culto da personalidade e o elevou a níveis nunca antes vistos, trinta anos depois de morrer. Como caem os poderosos.

Trinta anos de morte

Como caem os poderosos. Por muito maus ou criminosos que sejam, é só uma questão de tempo. Hitler morreu, Estaline também, e Mao, se fosse vivo, não se devia estar sentir nada bem.

No sábado, 09 Setembro, passaram trinta anos sobre a morte de Mao. Político enorme, poeta enorme, enorme assassino, enorme psicopata. A cara rosada e bochechuda de Mao continua a imperar sobre a praça de Tiananmen, mas a forma como a China lembrou a sua morte -ou vida, já agora- não poderia ser melhor vingança da China moderna. Quase 13 mil biliões de pessoas ignoraram a data.

É muito. É justiça poética. 13 mil milhões de almas levantaram-se na cama no sábado e optaram pela única forma de resistência que sobra a quem não lhe sobra a liberdade – não fizeram nada.

Friday, September 08, 2006

Não há tempo a perder- parte 3


Mais que a revolução ou a luta de classes, o que parece preocupar hoje em dia os jovens de Xangai é algo que não pode ser mais capitalista - a compra de casa.

“Comprar casa é o mais importante. Quem se quer casar tem de ter casa, porque qualquer namorada liga a isso. E quem tiver carro, melhor ainda,” diz Chen Wei Da, 37 anos, porteiro num prédio de escritórios,

“Sem dinheiro, é difícil viver em Xangai, o ordenado de pessoas como eu é entre dois e três mil reminbi por mês, cerca de 33 mil reminbi por ano,” diz adiantando que “as pessoas ricas, em Xangai, são mais felizes. Em Xangai há muitos ricos, mas também há muitos pobres.”

Mas a diferença de classes não faz Wei Da suspirar pela volta do comunismo. “Quem consegue ganhar dinheiro é rico e quem não consegue é pobre. É assim que deve ser,” afirma com confiança.

Em frente da casa histórica do PCC fica também a sala de vendas do “Lakeville Regency,” um dos mais caros condomínios do centro da cidade, onde o metro quadrado custa entre 03,9 mil e 08,1 mil euros (40 mil e 83 mil reminbi).

Tang Tze Ann, uma das agentes imobiliárias, nascida em Pequim, diz que emigrou para Xangai após a faculdade porque “a cidade é cheia de oportunidades, é um sítio fantástico para viver e trabalhar”.

Tze Ann, 26 anos, admite que “vale a pena pensar nos ideais comunistas de igualdade “ mas vai dizendo que “as pessoas têm diferentes experiências e aptidões e devem ganhar dinheiro de forma que reflicta essas diferenças.”

E, de qualquer forma, Tze Ann define igualdade de uma forma que os primeiros comunistas chineses talvez não partilhassem. “Eu também quero ser igual,” diz. “Eu também quero ter uma das casas que vendo.”

Em 1932, uma música chinesa de jazz glorificava Xangai como uma cidade com “casas com tapetes e confortos modernos, camas com molas, roupas da moda e grandes diamantes, alegria nos bares.” Foi preciso mudar muito para que quase tudo ficasse igual.

Não há tempo a perder- parte 2



Um dos clientes do café é Arnold Huang, 31 anos, importador de chocolates. Na esplanada, com um capuccino à frente, diz que “Xangai é a melhor cidade da China. É onde há mais dinheiro, mais oportunidades, os ordenados são mais altos, o trânsito é melhor e os serviços de saúde e a qualidade de vida também”.

Xangai teve em 2005 um dos mais elevados Produtos Internos Brutos da China, de 882,9 mil milhões de euros e com a economia a crescer 11,1 por cento é natural que Arnold, que tem uma filha de dois anos, aprendeu inglês sozinho e visitou Portugal em 2002, goste tanto da cidade.

Quanto ao comunismo, diz que “as desigualdades sociais acontecem em qualquer parte do mundo”. O seu objectivo futuro, adianta, é “ganhar mais dinheiro. Quero ter uma casa melhor, comprar um carro melhor e ter a certeza de que a minha filha tem acesso à melhor educação, para encontrar um bom emprego”.

Thursday, September 07, 2006

Não há tempo a perder



Xangai, o coração financeiro e comercial da China foi a metrópole onde nasceu o comunismo, e onde este foi primeiro a enterrar.

O capitalismo e a economia de mercado estão de volta com vingança e gosto, e isso nota-se com uma volta pelas principais ruas do centro de Xangai, onde entre marcas de roupa como a Zara e joalharias internacionais como a Cartier e a Tiffany´s, o negócio e o comércio estão bem e recomenda-se.

O mesmo não se pode dizer dos ideais comunistas que, a partir de Xangai, debaixo da liderança de Mao Zedong, se espalharam por todo o país até à fundação em 1949 da “Nova China”, a República Popular, governada desde então pelo Partido Comunista Chinês (PCC).

Por ironia, é no exacto local onde nasceu o partido que é mais visível o triunfo do capitalismo. Em Julho de 1921 nascia o PCC, no primeiro congresso nacional do partido, no número 374 de Huangping Nanlu. Um endereço que hoje não podia ser mais selecto, no bairro de Xitiandi, um dos mais elegantes da cidade, onde se concentram os bares restaurantes e lojas de design mais na moda na cidade chinesa.

O nascimento do comunismo em 1920 e a volta do capitalismo nos anos 2000 são parte do mesmo todo, que Isabel Wong, da Universidade de Illinois, chama “o cosmopolitismo de Xangai que ajudou a construir a modernidade chinesa.”

A vizinhança da casa museu do primeiro congresso do PCC faria revoltar os primeiros comunistas chineses. Ao lado, as joalharias Chopard e Baker, que, diz a empregada, “só atende com clientes marcação prévia”. Nas traseiras, a esplanada de uma multinacional americana de café, onde os residentes de Xangai bebem expressos a ouvir música em IPods e a falar a telemóveis de último modelo. O museu está vazio, o café está cheio.

Portugal inaugura consulado em Xangai


Já estava a funcionar desde Março, mas a inauguração oficial foi ontem. Portugal passou a ter uma representação diplomática naquela que é, para mim, uma das mais bonitas, sofisticadas e românticas cidades do mundo. E rápida, muito rápida, que aqui não há tempo a perder. Há dinheiro para ganhar, empregos para manter, sonhos para cumprir. Aqui ainda há rags to riches. E muitos, muitos, rags to rags. Ainda assim, viva a cidade mais nova-rica da China.

Sunday, September 03, 2006

O mail que fez Lucy Gao famosa

Ler de baixo para cima., os comentários que as pessoas foram fazendo estão a cores. E a cadeia de mails que se seguiu...

This is nuts, I can't believe it. some crazy intern at Citibank in new york (might I stress intern) sent out this email, so far its gone round the world, to several different banks. Thot its' kinda joke (coz she's a joke) but here at the pictures as evidence.....

Jeanne Chow, CAIA
Associate Director
Investment Management Association of Singapore

-----Original Message-----
From: Goh, Szewei
Sent: Friday, September 01, 2006 5:27 PM
To: Jeanne Chow; Jasmine Tiw; Jenny Chong; Jose Fung; Karweng Loo; Lim Koh Sang
Subject: FW: Party photos for perspective.....

Lucy,

On behalf of everyone who works in finance in New York City, including the leading investment banks - Goldman, Morgan, Merrill, CSFB, Citi and UBS - as well as all the leading hedge funds and private equity shops, we'd like to congratulate you on becoming a world-wide celebrity (as you may see from the below). We are also hearing positive things about you from our respective Hong Kong offices.

We'd like to invite you to a party in your honor at the Ritz in New York.
(We have one here too) Don't worry, we will arrive precisely on time, and stand in strict regimented formation until the photos have been taken and processed. Please read ALL the following and ensure strict compliance for your party in New York:

We are expanding the dress code to allow both ascots and ties for gentleman.

Bad taste will be allowed for ladies if skirts are short enough and tops are low enough.

Arrival times in increments of 15 minutes are too imprecise; we are revising these to 4 minute intervals.

We are expanding the gift-giving period by 45 minutes so that we may all lavish you with more gifts of greater extravagance

People are permitted to change the wording of "I am here for Lucy's Birthday Party at the Rivoli Bar", but only if approved in advance.

Please call my mobile 212 555 2897 and my manservant can address any questions you have.

We look forward to the favor of your reply,

Your colleagues in finance from around the world


----- Forwarded by Michael J BUSH/HBEU/HSBC on 25/08/2006 08:41 -----

To: Chris DULEWICZ/IBEU/HSBC,Michael J BUSH/HBEU
Subject Fw: Classy interns

Entity: Investment Banking Europe - IBEU

Please see below and start from the bottom...sigh...I see some recipients work in our dear institution...

I would like to invite everyone to the Whetherspoon's pub tonight.

Group arrival times are listed below:

HSBC: 8pm

Morgan Stanley: 8:15pm

Other assorted brokerages: 8:30

Drinking will commence at 9pm and finish at 11:15 pm, with a break at 10pm for smoking and playing on the fruit machines. There will be a short period after the photos (see below) for some fighting.

STRICT DRESS CODE:
Gentlemen: Jeans (ripped/ragged), t-shirts (preferrably FCUK), un-tucked shirts with a St George's Cross on the front.

Ladies: Skirt (short), trousers (one size too small for the wearer), top (cropped).

Advice 1: It goes without saying that the more upper-class you dress, the less likely you will be allowed entry. Advice 2: Photos will be taken between 11:15pm to 11:30pm, and these will be distributed once processed, therefore you may want to do a 'mooner' or practise your projectile vomitting.

----- Forwarded by Stella Leong/SF/LON/F-I on 08-24-2006 14:54 -----
To Carmen Cheng
08-24-2006

Subject FW: Beware interns, you do not want to do this.

This is true, she'got a real email address the most famous girl in all the city and canary wharf!

----- Forwarded by Onur Tanrikulu/GB/ABNAMRO/NL on 24/08/2006 14:07

To:"Strudwick, Adam [CIR]"
Subject FW: Beware interns, you do not want to do this.

Citigroup interns are quite flash these days!

From: Meyer, Elizabeth Jane [CIB-HR]
Sent: 24 August 2006 09:15
To: Tobie Mann; Heini Souminen; Kupor, Aletta; Majanen, Paula
Subject: FW:

Oh my god! Read from the bottom! Its gone not only to EVERYONE in citi but i've just been told by my boss its gone all over the banks and they're all laughing about it.

From: Spencer, Emma [CIB-HR]
Sent: 23 August 2006 18:13
To: Harker, John [CIB-HR]; Nagy, Chrissie [CIB-HR]; Patterson, Jarrod [CIB-HR]

As previously discussed.... maybe we need to revisit the intern selection criteria, I think the emphasis on control may be too high!

From: Rehman, Heidy [CIR]
Sent: 18 August 2006 11:52
To: Parkes, Tracy [CIR]; Doyle, Marcia [CIR]
Subject: FW: Details and instructions for Lucy's Ritz Party

You have to read this.....from the intern working on the property team - I can hardly contain myself!

From: Stewart, Catherine [CIR]
Sent: 18 August 2006 11:48
To: Rehman, Heidy [CIR]
Subject: FW: Details and instructions for Lucy's Ritz Party

... I don't like to spread things... I feel quite bad really - but you just HAVE to read this....

From: Plemic, Maria [CIB-EQTY]
Sent: 18 August 2006 11:28
To: Stewart, Catherine [CIR]
Subject: FW: Details and instructions for Lucy's Ritz Party

Cathy, do you know this girl below...Lucy? Think she is in research. This is outrageous, read the invite!!!!!!!!!

-----Original Message-----
From: Gao, Lucy [CIR]
Sent: 16 August 2006 12:53
To: Curwen, Phoebe Sarah [CIB-GTS]; Olea, Ovidiu [CIB-GTS];Brennan,Paul1 [CIB-GTS]; Cartwright, Nick James Peter [CIB-GTS]; Casey, Krystal [CIB-CRRM]; Croatto, Marco [CIB-GTS]; Gayeva, Ulyana [CIB-GTS]; Jensen, Kim [CIB-GTS]; Lvov, Nikolay [CIB-GBKG]; Seugnet, Sophie [CIB-GTS]; Spencer, Harry Belford [CIB-GTS]; Andrews, Edward John [CIB-GBKG]; Schwarz, Daniel Christopher [CIB-FI]; Seugnet, Sophie [CIB-GTS]; Zhuk, Dmitry [CIR]; Chinelato, Marcelo [CIB-GBKG]; Moratti, Andrea [CIB-FI]; Butler, Rachel Louise [CIB-FI]; Lin, Jingjing [CIR]

Cc: 'Theodore Kyriacou'; Choi, Alan [CIB-GBKG]; 'Gill, Sanampreet'; 'Entwisle, Sunita (IBK EMEA)'
Subject: Details and instructions for Lucy's Ritz Party

Dear Friends,

Thank you for all your replies and I am glad all of you can come this Friday to celebrate my 21st with me. Please read ALL the following to ensure your entry into the Ritz.

Lucy's 21st Birthday Party at The Ritz Hotel London

Friday, 18th of August
9pm Champagne Reception
10pm Photo Shoots
10:30pm Blowing Candles

Mid-night Pangaea, Mayfair

I have arranged the Ritz to host a Champagne Reception with a selection of Ritz Champagne for all my guests, this will be on me so please come and indulge.

A specially made birthday cake has also been ordered and the Ritz waiters will kindly serve you each a generous slice with Ritz cutleries, etc...also on me.

INSTRUCTIONS FOR ENTRY:

· When you arrive, take the Hotel entry on the opposite side of the Green Park tube station [Please refer to your arrival time at the end of this email]

· When asked "how can I help you Sir/Madame?", you reply "I am
· here for Lucy's Birthday Party at the Rivoli Bar"

· You will be escorted to the lounge area next to the Rivoli bar, where you will hopefully see a gorgeous group of ladies.

If you experience any issues getting in or getting to the Ritz, please call my mobile on 07782 205 450 and my Personal Assistant Ms Gill will kindly deal with your queries between 8:30pm to 10pm.

STRICT DRESS CODE:

Gentlemen: Jacket, shirt, and please also bring a tie (no jeans, trainers, flip-flops, polo-shirts)
Ladies: skirt/top, cocktail dress (no denim, min-skirts, flip-flips, bad tastes)

Advice 1: It goes without saying that the more upper-class you dress, the less likely you shall be denied entry.

Advice 2: Photos will be taken between 10pm to 10:30pm, and these will be distributed once processed, therefore you may want to be well-groomed! ;)

Finally...
I will be accepting cards and small gifts between 9pm to 11pm... hehehe

I very much look forward to seeing you all at the Ritz this Friday. Lucy

ARRIVAL TIMES: [Please stick to these as best as you can, thank you]
9:00pm: Lucy, Sophie Sandner, Kajai, Mandeep, Preet, Sanami, Su, Lisa, Kate.
9:15pm: Phoebe, Sophie Seugnet, Theo, Dmitry, Ed, Nikolay, Paul, Nick, Harry.
9:30pm: Marco, Andrea, Jess, Ovi, Yuki, Olga, Kim, Marcelo, Ulyana, Krystal, Dan.
9:45pm: Sunita, Alan, JingJing, Emma.
10:00pm: Anthony, Rachel, Roger, Uli, Yogi, Gharzi

Lucy Gao
Citigroup Real Estate Equity Research
4th Floor, Citigroup Centre (CGC1)
25 Canada Square, London E14 5LB
Email: lucy.gao@citigroup.com


The more upper-class you dress

Esta senhora é estagiária do Citibank, bonita, cretina como uma porta e, graças ao e-mail abaixo, um convite de aniversário grosseiro, pretensioso, arrogante, parolo, novo-rico e mal-educado, tornou-se na sensação mundial do mundo da finança e da banca. E que, é de notar, é um mundo que tem mais do que a percentagem normal de gente grosseira, pretensiosa, arrogante, parola, nova-rica e mal-educada.

De tal forma que o Financial Times lhe dedica o editorial de Sábado 02 de Setembro, e que o Guardian, o Times e o Daily Mail já escreveram sobre ela.

O nome da senhora é Lucy Gao, e, não por acaso, nunca por acaso, impossível ser por acaso, é descendente de “chineses ultramarinos,” a diáspora chinesa de primeira geração que se espalhou pelo mundo.

O mais engraçado é a volta ao mundo que o mail deu. O convite inicial foi enviado em Londres a 16 de Agosto. Eu recebi-o ontem em Pequim, vindo de Singapura. Todos os sites do sgrandes jornais ing;eses já o tinham online desde meio de Agosto. O Financial Times faz hoje um editorial.

Impossível não partilhar. Só retirei os e-mails e contactos das pessoas por quem o mail passou. Todos os outros são já públicos na net, pesquisando Lucy Gao no google.

Isto mostra uma coisa – nunca enviar mails pessoais do endereço do trabalho.

Friday, September 01, 2006

Obrigado pelas memórias

“O Independente” acabou hoje. Aqui na China, o tribunal mandou ontem prender, por cinco anos, o jornalista Ching Cheong. Ching é natural de Hong Kong e correspondente do jornal “The Straits Times,” de Singapura.



Num julgamento de 20 minutos, à porta fechada, o tribunal concluiu que Ching era um espião de Taiwan. Por cinco anos, 20 minutos e mesmo assim à porta fechada. Um amigo meu russo aqui em Pequim gosta de dizer, quando fala da terra dele e já bebeu uns copos a mais, que “a democracia não é um presente. É um prémio.”

Às vezes em Portugal a gente esquece-se. Mas sabe bem, a liberdade. E, como no caso de “O Independente” dos verdes anos, ainda sabe melhor quando é bem escrita. Obrigado pelas memórias.