Monday, September 18, 2006

Guerra das Civilizações, versão Pulido Valente

É difícil discordar com o vigor e a raiva que se deve ter nestas coisas de alguém que achamos um herói, mas de vez em quando, “dos gonzos sai o tempo”.

O homem, por brilhante que seja, sempre insistiu na superioridade da civilização ocidental e católica. Enquanto “public intellectual” pode fazê-lo, mas enquanto académico vou ali já venho. E aqui está um exemplo de Vasco Pulido Valente a voar baixinho nos “cultural studies”, coisa sobre a qual manifestamente leu pouco, leu mal e leu mau. O post chama-se "Reafirmou a essência".

Nem seque me interessa entrar na discussão sobre se foi o cristianismo sozinho, sem muçulmanos ou judeus, que mais contribuiu para o que VPV chama “O Ocidente”.

Agora, dizer, como VPV diz, que a fé muçulmana (?) sustentou “uma civilização frustre e parada” é com certeza um bocado de exagero? Cabe tudo no mesmo saco, aparentemente: Ásia Central, Médio Oriente, Sudeste Asiático, Nova Iorque, Londres, mesquita da Praça de Espanha e o Martim Moniz. É a guerra das civilizações, versão Portas de Benfica. Permite, com certeza, ter opinião, mas deixa pouco espaço à análise e à compreensão.

Dois livros ajudam à compreensão e a uma ideia mais generosa e com menos generalizações sobre o Islão, como se os muçulmanos, ou os cristãos, fossem todos uma massa uniforme.

Um livro brilhante, de um muçulmano que poderia ser dos tempos iluminados de Córdova. Muhammad Asad, nascido Leopard Weiss, neto de um rabino judeu ortodoxo da cidade polaca de Lvov. “The Principles of State and Government in Islam”.

Outro, do antigo Vice-primeiro Minstro da Malásia Anwar Ibrahim que acredita, e bem, que o Islão foi desviado pelos “Mad Mullahs” e que primeiro passo para o Islão ser visto pelo seu lado positivo (e não pela óptica VPV) é resolver essa questão interna e tirar os “Mad Mullhas” do lugar do condutor. "The Asian Renaissance" e aqui.

Infelizmente, Anwar depois entra na conversa tonta dos “valores asiáticos”, que é o mesmo ponto de vista de VPV: que há valores culturais intrínsecos a civilizações que permitem atingir resultados concretos, regardless das condições materiais da história.

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