Monday, September 11, 2006

Trinta anos de morte: parte 2

Mao odiaria o desprezo, e isso basta para qualquer pessoa, hoje em dia, sentir bem. O assassino da cara rosada era o homem das frases que ficam no ouvido - e depois até fazem zunir os tímpanos, de atrozes que são.

Pérolas como “A revolução não é um jantar de gala” (isto do homem que, naquela altura na China, devia ser da mão-cheia de chineses que frequentava jantares de gala ou, já agora, que tinha comida) ou “Quantos mais pessoas matarem mais revolucionários serão” dito num discurso aos anjinhos dos Guardas Vermelhos da Revolução que limpou o sebo a entre um e dois milhões de chineses são boas.

Mas o prémio I-am-so-fucking-good-it-hurts é “Eu sou o imperador Qin e Marx num só”. Foi o antigo secretário de Mao, Li Rui, que relatou ao mundo que o carniceiro de Pequim gostava de dizer a frase, referindo-se a um antigo imperador chinês conhecido pelos métodos autocráticos.

Agora, poucos foram os que lembraram a morte de Mao. E menos que todos, os herdeiros do governo chinês e do Partido Comunista da China que trataram a memória de Mao como as tias da Foz tratam os primos parolos de Trás-os-Montes. Dizem olá e escondem-nos na cozinha.

Os mais novos não querem nem saber. Os mais velhos, em especial os que vivem nas cidades, foram quase todos, nalgum ponto do Maoísmo, vítimas e cúmplices, compagnons de route e penitentes. Preferem não lembrar.

Poucos ligam ao homem que agarrou no culto da personalidade e o elevou a níveis nunca antes vistos, trinta anos depois de morrer. Como caem os poderosos.

1 Comments:

At 10:51 AM, Blogger Raquel Sabino Pereira said...

Parabéns pelo Blog!!! Pus o link para o Atlântico Azul e um post!
Saudações Atlânticas!

 

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