Tuesday, October 24, 2006

Podem os asiáticos pensar?


Pronto, é oficial. A China acaba de entrar no comboio retórico do relativismo moral e antropológico.

Pequim, por sistema, defende a forma sui generis (to say the absolut least) como o poder é exercido no país e como as políticas públicas são decididas com o princípio da não-intromissão. Ditadura ou não ditadura, Pequim refugia-se sempre na lei chinesa e na independência e autonomia nacionais. Um argumento legalista, portanto.

Mas hoje, em resposta às críticas do (sinsitro e ex-maiosta) Paul Wolfowitz, presidente do Banco Mundial, de que a ajuda ao desenvolvimento chinesa a África compromete os avanços nos direitos humanos e na protecção ambiental do continente, o altamente gostável, afável, simpático e divertido Liu Jianchao, porta-voz do MNE chinês, disse o seguinte:

“A China não quer que lhe sejam impostos outros valores e sistemas sociais, e vice-versa”.

Topam? Da casa rígida e severa da Lei para o albergue espanhol dos valores, onde cabe tudo. Parece a actual discussão em Portugal sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez.

A China entra assim no caminho que Singapura, a Malásia e a Indonésia de Suharto entraram há muitos anos, conseguindo mesmo conquistar muitos tontos na Europa e Estado Unidos. Parece ontem que o relatório do Banco Mundial “O Milagre do Crescimento Económico da Ásia Oriental” sugeria que valores intrínsecos das sociedades dos “Tigres Asiáticos” estavam na base do seu crescimento.

Outra pessoa bestial, divertida, com quem Liu Jianchao se deverá dar bem com certeza é “Can Asians Think?”, ex-embaixador de Singapura nas Nações Unidas.

Será que é preciso ser óptima companhia de jantar para defender “os valores asiáticos”?

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