Sunday, August 27, 2006

O poder, os frigoríficos, e tudo isso


Ok, juro que é o último post nesta linha. Depois voltamos à China.

Não sou por princípio contra o capitalismo. Acho mesmo que, muitas vezes, a expansão do capitalismo e das marcas internacionais ou globais aos países em vias de desenvolvimento é extremamente positiva e, mesmo, libertadora e empowering. Tá bem, big pharma, o “Constant Gardener” e essas coisas, mas acho que muitas vezes, pior que ser explorado pelo capitalismo internacional, é não ser explorado por ele. No entanto…

Não há dúvida que os processos descritos no “Imperial Leather” continuam a existir. Vejam este exemplo , para vender frigoríficos.

Os chineses têm a ambição compreensível de poder conservar a comida em casa, sem se estragar, durante alguns dias. Nada a opor. E têm, por isso necessidade de comprar frigoríficos.
A multinacional alemã Siemens têm a ambição de ganhar uns trocos, e vender frigoríficos é um negócio tão honesto quanto outro qualquer, que responde às necessidades chinesas. Dito isto, para vender frigoríficos, a Siemens tinha duas escolhas (para simplificar). Ou apelar à realidade local, ou não.

Considerando que a China tem 1,3 mil milhões de pessoas e que dessas só 8 milhões consome vinho, e nem sequer com regularidade, levanta-se a questão? O que é que o espumante do anúncio tem a ver com a China? Onde está relação? O país importou em 2005 menos de 500 mil litros da champanhola, portanto, cada chinês que bebe vinho bebeu apenas 0,06 litros da coisa. Menos que um cálice de bagaço. E isto sem contar que os Rolling Stones estiveram cá e só o Mick Jagger deve ter sido responsável por uma quota respeitável do consumo. Com certeza que a Siemens há-de querer vender mais de 0,06 frigoríficos por pessoa.

A resposta é aspiracional. A Siemens espera claramente que o chinês pense que o europeu e o americano sejam cool. E que bebam champanhe. E que guardem o champanhe num frigo da Siemens. Logo, para ser cool há que ser igual ao europeu e o americano, beber champanhe e guardá-lo num Siemens. No fundo, ser como o White Nigger.

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